Algumas reflexões
Toda vez que me pego pensando em tudo que passei, de cada momento em que estive cara a cara com a possibilidade real de morte, me pergunto:
Como pude dar conta de tudo isso?
E a resposta não é simples, porque não há uma fórmula mágica para lidar com tudo isso. Quando recebi o diagnóstico, eu me desesperei tanto, que as únicas coisas que eu conseguia pensar eram: eu vou morrer? Mas eu não quero morrer! E agora? O que eu faço? O que vai ser de mim? E meus filhos?
Aquele sentimento de impotência, em saber que estava doente, mas que, diferente de uma doença rotineira, não havia muito que eu pudesse fazer. Na verdade, eu me sentia um inútil porque eu sequer conseguia me mexer. E só sentia dores. Muitas dores.
Eram mais de 20 tumores em meu corpo: virilha, coluna, cabeça, peito... Enfim... Eram tumores espalhados por todo canto! Um deles me deixando tetraplégico... E essa sensação... Não desejo a ninguém. De um dia pro outro (literalmente falando) eu perdi todos os movimentos do meu corpo. Numa quarta-feira eu andava com dificuldade. Na quinta-feira eu já não mexia nada!
Após passar pela cirurgia que salvou minha medula e reverteu a tetraplegia, eu tive o tromboembolismo pulmonar duplo e infarto no pulmão. Aliado a isso, ainda tinha o fato de que eu teria que reaprender tudo.
Segurar um copo, abrir uma garrafa, segurar um talher, escrever meu nome, me sentar, andar, até mesmo respirar (sim, respirar) eu tive que reaprender cada uma dessas coisas e isso me deixava desesperado, me sentia um inválido, um inútil, um verdadeiro prisioneiro em meu próprio corpo. Porque eu sabia o que queria fazer, mas tive que reeducar meu corpo para responder a cada uma dessas pequenas tarefas.
Uma das maiores realizações que lembro de comemorar foi quando, pela primeira vez após o início do tratamento, eu preparei sozinho um café da manhã.
Desse dia em diante, cada passo dado sem o andador, cada minuto sozinho no banho, com cadeira de banho ou sem, era motivo para as mais eufóricas celebrações.
Graças ao empenho e apoio de minha esposa, da minha família e de nossos amigos, não demorou para que as celebrações passassem a ser para cada degrau de escada que eu subia e descia, para cada minuto a mais que eu passava em minha bicicleta ergométrica... Até celebrarmos, em 2021, o fato de completar 500km de pedal em 90 dias e, após, no ano seguinte, minha primeira participação no Iron Biker Brasil e, dois anos depois, minhas primeiras participações em outras competições de Mountain Bike.
Tudo isso serviu para me lembrar de que, apesar do diagnóstico, apesar dos medos, das inseguranças e dos sustos, eu nunca estive disposto a permitir que aquele diagnóstico sombrio e assustador fosse a minha sentença, pois:
"Sou como a haste fina. Qualquer brisa verga. Mas nenhuma espada corta."
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